terça-feira, julho 11, 2006

Há três meses...

...e uns dias, ou seja no dia 9 de Abril, preparámos tudo em casa e saímos. Fomos ao Vasco da Gama ver de uns sapatos e comprar revistas e depois fomos comer uma pizza. Imaginava um longo jejum. Nada melhor que uma pizza à beira rio para fazer um dia especial. Era um dia importante, o último a dois.
O parto seria induzido essa noite. Razões? Aparentemente um ctg a dar alguns sinais de enfraquecimento da placenta e a Pascoa demasiado perto. Suponho que o médico não lhe apetecia estragar as mini-férias. A mim não me importou. O dia 10 é um dia bonito e já estava cansada e ansiosa.
Feito o chek-in, ligado o ctg, fiocámos à espera de uma tal enfermeira para pôr uma tal de fita. O médico viria pela manhã. Ela disse que estava tudo muito fechado e que me esperavam longas horas... Assim foi. Uma noite em claro, descconfortável, à espera das contracções. Que chegaram de mansinho. Não me perguntem de quanto em quanto tempo, nem a que horas especificamente. As recordações daquele dia são nebulosas. De manhã veio o médico que fez o toque (subi pelas paredes) e me disse estar muito atrasado e que ia experimentar induzir mais uma vez com o tal gel. As dores eram suportáveis, mas a partir daí intensificaram-se. Agoniei-me, senti cólicas terríveis. Um mal estar enorme. Não sei durante quanto tempo, porque quando ele voltou lá e fez segundo toque (mais uma parede subida) disse que ele continuava muito em cima e tal, e que um trabalho de parto prolongado não me garantia um parto normal. Sugeriu a cesariana para daí a meia hora (acho eu). Aí sinto que fraquejei. Acenaram-me com uma solução rápida e fácil. E as dores já eram tantas que não me imaginei a passar muitas horas daquilo. Sinto, hoje, que podia ter insistido. O pai, sempre comigo, concordou. E lá fiquei a aguardar que me viessem buscar, quietinha, e de olhos fechados a sentir as contracções a ir e vir. Vieram finalmente buscar-me e ao separar-me do pai no final do corredor, chorei. Senti-me muito sozinha, no meio daquele aparato todo. E fria. Estava tanto frio lá na sala de partos! O médico ao chegar deve ter percebido o meu beicinho, porque me fez uma festinha que não vou esquecer. Fez toda a diferença ter ali o meu médico naquele momento. A partir daí as coisas ficaram ainda mais nebulosas, suponho que por causa de um medicamento para evitar mais vómitos. Sei que o anestesista era libanês (ou seria sírio?) e que gracejou com as minhas origens gregas. Senti as pernas a desaparecer e o médico a mexer e a puxar. Virei a cara para não ver o reflexo do que faziam num vidro de um armário. O médico diz qualquer coisa como «A tentativa era honesta, mas ele estava mesmo muito subido!» e «Eh lá! Este é moreninho». E falavam muito todos. Mas não comigo. De repente ouço chorar. Era ele! Aí sim, emocionei-me. É sem dúvida uma sensação indescritível. Trouxeram-mo ao meu lado e eu achei que tinha muito cabelo e a cara quadrada. Não vi mais nada. Ouvi-o a chorar ao longe. Presumo que continuaram o serviço. A mim só queria que me deixassem em paz. Talvez me apetecesse dormir um pouco. Mas não. Mexe e remexe, põe daqui, passa para ali. Nesses intantes só pensava «E agora? O que é que eu faço? Agora é a sério. Serei capaz de tratar dele? De cuidar dele?». Levaram-me para o recobro, onde percebi que o iam levar logo logo e onde também estavam os pais. Alguém dizia que o meu homem chorava que nem uma madalena, sorri. Fiquei à espera que viessem os meus amores. Estupidamente feliz.

1 comentário:

Sofia disse...

Na minha condição actual não posso ler estes tipo de posts pá! É que fica difícil conter as lágrimas no local de trabalho! E eu também me lembro bem daquele dia. Estava tão ansiosa!!!! Só queria que alguém me dissesse que tudo tinha corrido bem e que o Lourenço já estava cá fora. Foi muito emocionante! E daqui a oito meses são vocês a torcer por mim e pelo Louie e pelo bebé! Aí é que vão ver como um tio sofre!!eh!eh!